domingo, 20 de novembro de 2011

Não, não é cansaço...


É uma quantidade de desilusão

Que se me entranha na espécie de pensar,

E um domingo às avessas

Do sentimento,

Um feriado passado no abismo...



Não, cansaço não é...

É eu estar existindo

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém,

Como tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.



Não. Cansaço por quê?

É uma sensação abstrata

Da vida concreta —

Qualquer coisa como um grito

Por dar,

Qualquer coisa como uma angústia

Por sofrer,

Ou por sofrer completamente,

Ou por sofrer como...

Sim, ou por sofrer como...

Isso mesmo, como...



Como quê?...

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

Porque ouço, vejo.

Confesso: é cansaço!...



Álvaro de Campos